quarta-feira, 27 de abril de 2011

O século XX: vista aérea/ Olhar panorâmico.(Eric Hobsbawm)



A Era dos Extremos:
O breve século XX
(1914-1991)
Eric Hobsbawm; tradução Marcos Santarrita; revisão técnica Maria Célia Paoli. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

   O séc. XX é considerado por este repleto de questões e impasses.
Para o autor, o séc. foi breve e extremado: sua historia e suas possibilidades edificaram-se sobre catástrofes, incertezas e crises, decompondo o construído e longo séc. XX.
  Anos 90, representam um mundo onde o passado e futuro parece estar seccionado do presente.
  Desafio em compreender e explicar a articulação entre a primeira Sarajevo e os quarenta anos de guerra mundial, crises econômicas e revoluções da primeira metade do séc., e a ultima Sarajevo, das guerras étnicas e separatistas, da precariedade dos sistemas políticos transnacionais e da reposição selvagem da desigualdade contemporânea.
   Divisão de três Eras – “da catástrofe” duas grandes guerras, pelas ondas de revolução global em que o sistema político e econômico da URSS e pela virulência da crise econômica de 1929. Fascismo e o descrédito das democracias liberais surgem como propostas.
   “Os anos dourados” 1950 e 1960, estabilização do capitalismo, responsável pela promoção de uma extraordinária expansão econômica e profundas transformações sociais.
   Entre 1970 e 1991 “desmoronamento” final, em que caem por terra os sistemas institucionais que previnem e limitam o barbarismo contemporâneo, dando lugar a brutalização da política e a irresponsabilidade teórica da ortodoxia econômica e abrindo as portas para um futuro incerto.

  • O século XX: vista aérea/ Olhar panorâmico.

    I. 28 de junho de 1992, o presidente Mitterrand, da França apareceu de forma súbita em Sarajevo, centro de uma guerra balcânica. Seu objetivo era lembrar á opinião publica mundial a gravidade da crise da Bósnia. 28 de junho era o aniversário do assassinato, em Sarajevo, em 1914, do arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria-Hungria. Mas quase ninguém captou a alusão, exceto uns poucos historiadores profissionais e cidadãos muito idosos. A memória histórica já não estava viva.
A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos que vinculam nossa experiência pessoal á das gerações passadas – é um fenômeno mais característicos e lúgubres (triste) do final do séc. XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente continuo, sem qualquer relação com o passado publico da época em que vivem.
Para os historiadores da geração do autor o passado é indestrutível, não apenas por pertencer á geração em que ruas e logradouros públicos ainda tinham nomes de homens e acontecimento público, em que os tratados de paz ainda eram assinados e, portanto tinha de ser identificados e os memoriais de guerra lembravam acontecimentos passados, como também porque os acontecimentos públicos são parte da textura de suas vidas. Eles não são apenas marcos em suas vidas privadas, mas aquilo formou suas vidas, tanto privadas como públicas.
    Na medida em que nos habituamos a pensar na economia industrial em termos de opostos binários “capitalismo” e “socialismo” como alternativas mutuamente excludentes, uma identifica com economias organizadas com base no modelo da URSS, a outra com todo o restante. Agora já deve estar ficando evidente que essa oposição era uma construção arbitraria e em certa medida artificial que só pode ser entendida como parte de determinado contexto histórico.
   Mesmo o mundo que sobrevive ao fim da Revolução de Outubro é um mundo cujas as instituições e crenças foram moldadas pelos que pertenciam ao lado vencedor da segunda Guerra Mundial. Os que estavam do lado perdedor ou a ele se associavam não apenas ficaram em silencio ou foram silenciados como foram praticamente riscados da historia e da vida intelectual, investidos do papel de “o inimigo” no drama moral de Bem versus Mal. O autor levanta uma questão importante, a possibilidade de estar acontecendo o mesmo hoje com os perdedores da Guerra Fria, embora talvez não na mesma proporção, nem por tanto tempo.
     A principal tarefa do historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais dificuldade para compreender. O que dificulta a compreensão, no entanto, não são apenas nossas convicções apaixonadas, mas também a experiência histórica que as formou. As primeiras são fáceis de superar, pois não há verdade no conhecido e enganoso dito francês (Tudo compreender é tudo perdoar). Compreender a era nazista na historia alemã e enquadra-la em seu contexto histórico não é perdoar o genocídio. De toda forma não é provável que uma pessoa que tenha vivido este séc. extraordinário se abstenha de julgar. O difícil é compreender.

   II. Compreensão da P.G.M. ao colapso da URSS.
O roteiro deste livro - P.G, assinalou o colapso da civilização (ocidental) do séc. XIX.
   Civilização capitalista na economia, liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem de sua classe hegemônica característica; exultante no avanço da ciência do conhecimento e da educação e também com o progresso material e moral; profundamente convencida da centralidade da Europa, berço das Revoluções da ciência, das artes, da política e da indústria e cuja economia prevalecera na maior do mundo, que seus soldados haviam conquistado e subjugado; uma Europa cujas populações haviam crescido até somar um treco da raça humana; cujos maiores Estados constituíam o sistema da política mundial.
     Toda a história do imperialismo moderno, tão firme e autoconfiante, não durara mais que o tempo de uma vida humana.
    Uma crise econômica mundial de profundidade sem precedentes pôs de joelhos até mesmo as economias capitalistas mais fortes; criação de uma economia mundial única/ capitalismo liberal do séc. XIX.
  Enquanto a economia balançava, as instituições da democracia liberal praticamente desapareceram entre 1917 e 1942; enquanto isso avançava o fascismo e seu corolário (conseqüências) de movimentos e regimes autoritários.
   De muitas maneiras, esse período de aliança capitalista-comunista contra o fascismo – sobretudo as décadas de 1930 e1940 – constituiu o ponto crítico da história do séc.XX e seu momento decisivo. De muitas maneiras, esse é um momento de paradoxo histórico nas relações entre capitalismo e comunismo, que na maior parte do séc. – com exceção do breve período anti-fascismo – ocuparam posições de antagonismo inconciliável.
    Umas das ironias deste estranho século é que o resultado mais duradouro da Revolução de                  Outubro cujo objetivo era a derrubada global do capitalismo foi salvar seu antagonista, tanto na guerra quanto na paz, fortalecendo-lhe i incentivo – o medo – para reformar-se após a S.G.M. e, ao estabelecer a popularidade do planejamento econômico, oferecendo-lhe alguns procedimentos para sua reforma.
    Como e porque o capitalismo, após a S.G.M, viu-se para a surpresa de todos, inclusive dele próprio, saltar para a Era de Ouro de 1947-73, algo sem precedentes e possivelmente anômalo(apresenta anomalia) ?
   Contudo, já podemos avaliar com muita confiança a escala e o impacto extraordinários da transformação econômica, social e cultural decorrente, a maior, mais rápida e mais fundamental da historia registrada. Vários aspectos dessa transformação. É provável que no terceiro milênio os historiadores do séc. XX situem o grande impacto do séc. na historia como sendo o desse espantoso período e de seus resultados. Porque as mudanças dele decorrentes para todo o planeta foram tão profundas quanto irreversíveis. E ainda estão ocorrendo. Os jornalistas e ensaístas filosóficos que detectam “o fim da historia” na queda do império soviético estavam errados.
   O argumento é melhor quando se afirma que o terceiro quartel do séc. assinalou o fim dos sete ou oito milênios da historia humana iniciados com a revolução da agricultura na Idade da pedra, quando mais não fosse porque ele encerrou a longa era em que a maioria esmagadora da raça humana vivia plantando alimentos e pastoreando rebanhos.
  Convém lembra que o impacto maior e mais duradouro dos regimes inspirados pela Revolução de Outubro foi a grande aceleração da modernização de paises agrários atrasados. Na verdade, nesse aspecto suas grandes realizações coincidiram com a Era de Ouro capitalista.
    A crise afetou as varias partes do mundo de maneiras e em graus diferentes, mas afetou a todas elas, fossem quais fossem suas configurações políticas, sociais e econômicas, porque pela primeira vez na historia a Era de Ouro criara uma economia mundial única, cada vez mais integrada e universal, operando em grande medida por sobre as fronteiras de Estado (“transnacionalmente”) e, portanto, também, cada vez mais, por sobre as barreiras da ideologia de Estado.
    Na década de 1980 e inicio da de 1990, o mundo capitalista viu-se novamente ás voltas com problemas da época do entre guerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado: desemprego em massa, depressões cíclicas severas, contraposição cada vez mais espetacular de mendigos sem teto á luxo abundante, em meio a rendas limitadas de Estado e despesas ilimitadas de Estado.
  Esse colapso revelou a precariedade dos sistemas políticos internos apoiados essencialmente em tal estabilidade. As tensões das economias em dificuldade minaram os sistemas políticos das democracias liberais, parlamentares ou presidenciais, que desde a S.G.M. vinham funcionando tão bem nos paises capitalistas, assim como minaram todos os sistemas políticos vigentes no Terceiro Mundo. As próprias unidades básicas da política, os “Estados-nação” territoriais soberanos e independentes, inclusive os mais antigos e estáveis, viram-se esfacelados pelas forças de uma economia supranacional ou transnacional e pelas forças inflacionais de regiões – exigiram para si o status anacrônico e irreal de “Estados-nação” em miniatura.
    Michael Stürmer, conservador alemão disse que as crenças do Oriente e do Ocidente estavam em questão:
     Há um estranho paralelismo entre Ocidente e Oriente. No Oriente, a doutrina de Estado insistia em que a humanidade era dona de seu destino. Contudo, mesmo nós acreditávamos numa versão menos oficial e extrema do mesmo slogan: a humanidade estava para tornar-se dona de seus destinos. A pretensão de onipotência desapareceu absolutamente no Oriente, e só relativamente chez nous – mas os dois lados naufragaram.
Para o poeta T.S. Eliot, “é assim que o mundo acaba – não com uma explosão, mas com uma lamúria (lamento)”.
    III.  Por que então, o séc. Terminara não com uma comemoração desse progresso inigualado e maravilhoso, mas num estado de inquietação? Por que como mostram as epígrafes (titulo) deste capitulo, tantos cérebros pensantes o vêem em retrospecto sem satisfação, com certeza sem confiança no futuro?
   Visto que este séc. nos ensinou e continua a ensinar que os seres humanos podem aprender a viver nas condições mais brutalizadas e teoricamente intoleráveis, não é fácil apreender a extensão do regresso, por desgraça cada vez mais rápida, ao que nossos ancestrais do séc.XIX teriam chamado de padrões de barbarismos.
      No entanto não podemos comparar o mundo do final do Breve Século XX ao mundo de seu inicio, em termos da contabilidade histórica de “mais” e “menos”. Tratava-se de um mundo qualitativamente diferente em pelo menos três aspectos.
     Primeiro; deixado de ser eurocêntrico.
    Segundo, a globalização.
  Terceira transformação, e mais perturbadora, é a desintegração de velhos padrões de relacionamento social humano, e com ela, aliás, a quebra dos elos entre as gerações, quer dizer, entre o passado e o presente.
    Contudo Marx e os outros profetas da desintegração dos velhos valores e relações sociais tinham razão. O capitalismo era uma força revolucionaria permanente e contínua. Claro que ela acabaria por desintegrar mesmo as partes do passado pré-capitalista que antes achavam convenientes, ou até mesmo essências, pra seu próprio desenvolvimento: acabaria serrando pelo menos um dos galhos em que se sustentava. Isso vem acontecendo desde meados do séc. Sob o impacto da extraordinária explosão econômica da Era de Ouro e depois, com suas conseqüentes mudanças sociais e culturais – a mais profunda revolução na sociedade desde a Idade da Pedra -, o galho começou a estalar e partir-se. No fim deste séc., pela primeira vez, tornou-se possível ver como pode ser um mundo em que o passado, inclusive o passado no presente, perdeu seu papel, em que os velhos mapas e cartas que guiavam os seres humanos pela vida individual e coletiva não mais representam a paisagem na qual nos movemos, o mar em que navegamos. Em que não sabemos aonde nos leva, ou mesmo aonde deve levar-nos, nossa viagem.
     O velho séc. não acabou bem.
  

aoferecendo-lhe alguns procedimentos ade do planejamento economico salvar seu antagonista, tanto na guerra quanto na paz, forta



  


   



2 comentários:

  1. Essa obra do Hobsbawm é sensacional, queria poder lê-la inteira um dia.

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  2. A propósito, adorei o novo layout do blog, ficou lindo!

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